a chuva. agora, nesse instante, escrevendo enquanto ela cai e faz meu coraçao bater na parede frontal e voltar com força pro seu lugar de origem - em movimento pendular, em velocidade que viola os códigos de transito, terra, agua, fogo e ar. acendo todas as luzes da casa, e ao chegar
agora no quarto de computador, uma barata enorme perdida entre a bagunça do chao. não me atrevo a nenhum tipo de reflexao ou pulsaçao ou me situar atrás do pensamento ou fazer da barata a matéria do mundo ou dar vazao a uma ontologia sensualista à essa altura. essas coisas apaixonadas, à moda de G.H. - sem poesia ou encantamento algum, essa barata monstruosa simplesmente fez meu coraçao bater ainda mais forte na parede, e aumentar meu terror demoníaco sem conhecimento de causa.
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bate.
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assim, a barata continua a me fazer companhia, escondida nesse quarto bagunçado e estranho. uma garrafa d'água no fim e um colchao no chao é o que me é dado. sinto um nó, eu sinto muito. com seu olhar de inquisidor, que está agora me olhando, meu desespero, um observador: uma barata. assim como os pratos, as xícaras, as panelas, a roupa de cama, tudo aqui me espreita e me expulsa como uma impostora. nas gavetas as fotos antigas, cartinhas dos filhos crianças, e nessa noite de confusao é como se tomasse pra mim toda a história, o peso. é como se tivessem me trancado do lado de fora da casa. eu do lado de fora da mesma e da outra, sem saber precisamente que terceiro espaço & lugar possa ser o que me guarda . sem saber o que posso vir a ser nesse lugar. e agora aqui dentro, todas as janelas fechadas pela chuva de pingos grossos, monstruosos como a barata que me espia de algum buraco, representando o papel de um possível deus - o globo ocular do universo - um universo que pesa sobre os meus ombros e nao me deixa dormir nessa noite que eu nem sei se é de lua.
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-------- dorme criança, dorme.