(Sístole & Diástole) ou (Atrás dos olhos das meninas sérias)

Mais importante que a palavra é a textura - até mesmo porque a palavra (quase) nunca presta.

segunda-feira, outubro 09, 2006

(de tanto bater meu coração parou) ou (fim)

e a delicadeza cada vez mais torpe, num de seus constantes acessos de histeria, no mesmo dia em que no meio-fio virou o pé de pássaro e quebrou o espelho com um sopro, desembainhou uma enorme flor afiada e a cravou contra seu peito de neblina. a flor de cisma demorada ia espinho por espinho rasgando a matéria sutil, esgarçando aos poucos a nuvem do peito da delicadeza que guardava em si um pequeno corpo, do tamanho de um punho fechado em batidas de sístole e diástole incansáveis. a flor continuava então penetrando as fissuras da matéria que era agora infinitamente mais densa, mais árdua, difícil, pouquíssimo delicada. como poderia uma nuvem guardar dentro de si tamanha grosseria? era uma contradição indigna, como alguém dizer do castigo de deus pelo fato de ser ateu! e foi aí que a delicadeza pareceu perder de vez o juízo [mas ela mesma de uma lucidez tamanha!], e carregando nas mãos a flor e o coração, atirou-os contra a correnteza que vinha do choro escaldante de guadalupe. delicadeza após livrar-se de seu próprio centro, mesmo sobrevivente não suportou por muito tempo a condição ex-cêntrica, e o que já era um prenúncio --- aconteceu:



o crime [necessário] para consigo mesma,

fechando de vez os olhos das meninas sérias.

quarta-feira, outubro 04, 2006

das coisas mesmas.

asteei uma bandeira de palavras no castelo de areia úmida
ele todo feito à mão
moldado por dedos finos,
o cuidado de esculpir a torre
que alcance a lua
e aos pés da violência espumante
das ondas.
fatalmente destrutível, transitório
[qual planta sem raíz]
o castelo nômade de firmeza relativa
parede frágil
do reino dos estrangeiros
da estirpe dos herdeiros
dos homens sem direção
sem a segurança do cimento
a geometria do tijolo
a base sólida da terra
seca.
asteei uma bandeira de silêncios no castelo de areia úmida
construído no caminho
por onde passa
o contra-senso da curva do vento
que sopra frio
mas tão frio
que dá vontade
de ser corpo morto
embaixo da terra
[qual raíz sem planta]
protegido do sopro da vida
que não cansa.
asteei uma bandeira branca no caminho
da fria ventania,
e esqueci os casacos
lá---
[dentro do último castelo destruído.]