(Sístole & Diástole) ou (Atrás dos olhos das meninas sérias)

Mais importante que a palavra é a textura - até mesmo porque a palavra (quase) nunca presta.

quarta-feira, agosto 30, 2006

palavra-trovão joyceana

para gritar-trovejar 7 vezes:

"bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonner
ronntuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthurnuk!"

segunda-feira, agosto 28, 2006

o homem que punhetava

--- é necessário também o gozo alienante que não vem acompanhado de prazer, sacia mesmo a tua necessidade, e guarda o membro melado na calça como quem limpa a boca com um guardanapo de papel depois do arroz com feijão diário. o corpo não pede muito, o corpo pede que pela boca se entre algo, pede a fricção de um outro sexo ou de uma mão, pede um canto qualquer pra ser horizontal e por algumas horas se desligar do mundo. o gozo alienante é uma risada bem dada na cara do prazer que é triste imediatamente um segundo após o gozo consciente. o prazer se entristece tão facilmente. porque ele sabe que bastam 5 arfadas e novamente você volta a si, como uma mola que te entrega e te recolhe, mas nunca se arrebenta. uma punheta bem dada pra se esquecer do castelo frágil de baralhos derrubados, de que infelizmente não basta enfiar o dedo no cu querendo que todo o resto de você também entre e fique lá pra sempre, esquecer que o "espírito" pede e finge muito mais que o corpo. os nossos quereres que dilaceram a razão são nossos idealismos, não um grito de suplício da nossa carne avermelhada. quanto a mim - eu, eu mesma e Irene - faz alguns dias que não penso mais, só tremo feito uma corda que ondula e ondula e. acho que de tanto bater meu coração parou, de tanto esperar um encontro [não duvido que seja nos mesmos modos de um cristão que espera a redenção, a sua espera também era assim?] sentada sempre no mesmo banco, a paisagem mudou e só meu banco continua lá intacto e eu não reconheço mais nada. anacrônica nesse mundo mais rápido que o pensamento. por isso o desconforto com as palavras, quando as coisas que te revolvem e que por sua vez revolvem as coisas do mundo já revolvem outra coisa ainda mais revolvente e revolvida isso te escapa. mesmo com a ausência de pontuação eu não consigo alcançar. e todas essas filosofias que violentam e se acumulam nos bolsos das calças e enchem os travesseiros e querem te enrabar a qualquer custo sem te deixar gozar [nem alienada nem esclarecida] implorando assentimento, como se fossem o absoluto a verdade do mundo do universo, do caos ao cosmos, e são todas parcialidades migalhas concedidas pelo mundo que se dá de dó do homem que não tem nada nem a si mesmo, e a mentira relativa que oprime tanto quanto a verdade absoluta e a liberdade na necessidade o nada a náusea o uno o múltiplo o bem o justo o belo o transcendente o transcendental a ataraxia a lógica os argumentos as justificações a antinomia a essência a aparência a linguagem o sublime que é para poucos a revelação que é para poucos a contemplação que é para poucos a dança que porra de dança é essa? me passa logo essa cicuta, vai. um viva à máxima do desconheça-te a ti mesmo pra manter a sanidade, e queria mesmo muito ver suas mãos cheias de calos que não são nem nunca serão maiores que os calos do seu "espírito" que não te basta pra ser homem. [a deprimencia da nicotina e da cafeína, nessas tardes nubladas, me bastam como hoje].

domingo, agosto 27, 2006

samba-canción dodecafônico.

eu vou gritar o silêncio torpe,
eu vou sim
nessas orelhas tão surdas que são minhas também
eu vou porque algo me escapa
eu vou gritarrrrrrrrrrrrrrrr -dizer o quê?
falta matéria substância amorrrr

pra dizer -dizer o quê?

as tripas, coração. é só o que você tem.
as tripas que te confirmam na pista de dança
e se reviram etílicas dentro do corpo
clamando por mais cuidados
no entanto, o coração mais maltratado que as tripas!
oh, eu quero me desfazer das visceras


eu queria ser uma abstração
gostar mais das abstrações
e desmaterializar sem dó.

o conceito de queda não cai na pista

não se derruba na vida
não tem joelhos
nem sente dor.


laiá laiá laiá

[ad infinitum até sumir]

domingo, agosto 20, 2006

a gangorra.

da quel

ela me confessou no espelho.

---talvez voltar a falar flores inofensivas e esquecer o deserto guardado lá dentro da boca sem céu estrelado, de onde escapam grãos que grudam nos olhos e cortam a visão dos objetos do mundo. ela é tão pequena nessa vida, de hábitos tão gatunos e tão triste também. sem fé que só. tão só. tão tão de tão pouco e minúscula. irresponsável de beber cerveja no graal, tão meia-boca. cheia de meias-verdades. tão pela metade. e a metade dividida em metades pequeniníssimas. um dia ela escutou os conselhos de augusto e desde então acostumou-se à lama que a espera. o homem que, nesta terra miserável, mora entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera. e não é que todos esses anos vem costurado com linha negra uma segunda pele, pele de defesas e asperezas de bicho-fera e arredio que mostra os dentes e esconde que esconde o rabo entre as pernas. em cada onibus que se entra, em cada roleta que se gira em cada banco que se senta em cada janela que a cabeça cansada se encosta em cada minuto de inação é se entregar ao quarto escuro que é só seu. acostumada com o lugar-comum que é a náusea disfarçada de dança. a doença que dança, só de pensar na cena ela sente vontade de chover e rir de tão nervosa, "oh meu deus mas que dialética monstruosa!" uma doença que dança uma valsa [nos braços de qual cura?]. "mas que sistema miraculoso!" sente como se estivesse se afogando no Mar-Morto desde os 50 anos a.C.

sexta-feira, agosto 18, 2006

ORVALHO.

E eu deitado contigo, tu, no lixo,
uma lua lamacenta
atirou-nos com a resposta,

separamo-nos aos bocados
e voltamos a esmigalhar-nos juntos:

O Senhor partiu o pão,
o pão partiu o Senhor.

Paul Celan

quinta-feira, agosto 17, 2006

vai homem!
corre e goza do Espírito puro de Homem
enquanto o seu lobo não vem.

vai lobo!
abocanha o homem pela jugular e mostra a força
do Mundo das estepes selvagens e o desprezo pelo asseio
com os dentes sujos de sangue quente.

vai homem!
cultiva o espírito nobre, a medida
e espanta a fera indômita
da destruição violenta e irracional.

vai lobo!
que o instinto é certo e os caninos
mais afiados que o espelho lento da razão.

vai homem!
se eleva em pensamento, salta por cima da besta
e alcança o espaço eterno e imutável
livre dos prazeres vãos.

vai lobo!
sê livre, astuto, e dorme ao relento
na noite mais estrelada da vida
ofegante e saciado a tremer de cio.

vai homem!
domina a natureza e seja o outro
o sujeito de um objeto opaco,
aquele que dorme sempre de Luzes acesas.

vai lobo!
uiva pra lua e rosna pras lanternas
que distraem o medo covarde
do escuro abismal dentro do homem.

- corre! que as outras matizes - entre um e outro - já começam a acordar.
- corre! pois agora multiplicam-se a multiplicidade de espécies!

- espera! sê lobo, sê rato, peixe, dragão, homem, búfalo, pássaro e raposa.
- pára! que a personalidade é a própria orgia entre todas as espécies da arca de noé, a incluir o seu exímio guardião.

(a prova disso é começar este documento, homolupinamente, e terminar assim, feito uma hiena vestida de bufão.)

terça-feira, agosto 15, 2006

abrir a caixa e revelar todos os males do mundo. escrever todos os males do mundo e revelar a falta da caixa.


"Saber que não se escreve para o outro, saber que as coisas que vou escrever não me farão nunca amado por aquele que amo, saber que a escritura não compensa nada, não sublima nada, que ela está precisamente aí onde você não está - é o começo da escritura. "

R. Barthes

luz e sombra e sorte.

o próximo pé que pisar na minha sombra será cortado
a próxima sombra que se aproximar da minha sorte será
crucificada: basta apagar todas as luzes.

então não haverá mais sombra minha,
nem pé que pisa na sombra.
não haverá mais sombra alheia,
nem o perigo de morte.

restando a sorte derradeira
[uma mulher sozinha e sem fé]
extraviada e se perdendo,
na escuridão sem norte.

domingo, agosto 13, 2006

em mãos.

se me ama não me ame
que entre dar
e receber
é onde mora o hiato
a mentira ou o segredo
do coração calado
calculista,
por isso agora não ---

já disse que me enfiaram
a faca e rodaram 7 vezes
desde então,
a sístole e diástole
mora na cabeça
e bombeia sangue frio
pr'o coração errado dos pés
que como um retirante pobre
bate e corre na estrada de terra
levantando a poeira,
a areia barata que derruba
num só ato
toda e qualquer
construção.

por isso agora não.

quinta-feira, agosto 10, 2006

intratável.

-hoje me disseram que eu sou um rio caldaloso, violento, gelado, profundo que corre pro...
-mar?
-não, pro nada.

quinta-feira, agosto 03, 2006

"Não humanizo bicho porque é ofensa. Eu é que me animalizo."

Da Clarice.