(Sístole & Diástole) ou (Atrás dos olhos das meninas sérias)

Mais importante que a palavra é a textura - até mesmo porque a palavra (quase) nunca presta.

sexta-feira, novembro 19, 2004

não existem cinzas sem fogo.

Os cigarros molhados tomaram conta da situação. Meu corpo é um cigarro molhado num estalo. (Ele tornou-se). Você é um cigarro molhado na minha boca, eu sou um cigarro molhado no seu maço. Molhado em água suja, água de poça de buraco fundo. Água que eu atravessei até embaixo, procurando flores aquáticas na margem, voltando à superfície nua e roxa, pulmão gritando sem ar. Tudo o que tenho são flores ornamentais, ornamentadas perfidamente de mim para mim em vasos de banheiro abandonado, esses consolos baratos e frágeis, fibras falsas vegetais, celulose trágica. Tenho cigarros boiando em água parada, sem conserto, que aguardam o desmanche final. Os restos descerão para o fundo e se acumularão uns sobre os outros, os velhos-velhos resquícios de hoje e sempre. Sem negar que existem restos de maior estima, eu lamento não ter tirado os cigarros do bolso quando afundei(aquém dos pés, além da cabeça).

quinta-feira, novembro 04, 2004

eu abuso eu abuso eu abuso

Porque eu matei meu amigo imaginário com uma sacola de supermercado. Depois o enterrei embaixo de um pé de amor-perfeito, no jardim.

papel velho/esquecido no porão de um amante.

Eu hoje acordei assim meio não sei,
meio cio, meio morte
meio centro e sem preparo
hoje acordei pra dentro, me negando
expulsando, espremendo.
eu hoje só me despeço, debruço
engasgo
e invento jogos e projeções
cheios de pele, de corte e escuro
hoje meu silêncio não berra
ele espeta por debaixo dos dedos melados
de desejo, ele geme
baixo
hoje eu sou só forma, até o último
desde o primeiro
assim, ao contrário, meio falta
meio flama
inteiro pulsando e ingrata.
em 100 pedaçõs, sempre
(e muito bem) apertados.

susto ou breve.

Anda, arruma as malas põe as roupas rosas pega o caderno sóbrio suspende o juízo impróprio.
Levanta, dizendo o que não convém fazendo bolhas de saliva grossa e passada enterrando os curativos sujos num buraco secreto no muro.
Respira, pega aquilo que não te molesta e enfia no bolso protegendo-o com espuma de água calma e salgada.
Corra, cospe o resto de sono no chão sobe as escadas vermelhas até o último vestígio de sangue contido e sem rima sem nada.