(Sístole & Diástole) ou (Atrás dos olhos das meninas sérias)

Mais importante que a palavra é a textura - até mesmo porque a palavra (quase) nunca presta.

quinta-feira, abril 27, 2006

o útero é o limite

há os que estão pra sair,
e os que querem voltar.
os que estão pra sair
são filhos dos que querem voltar.
competem na infantilidade,
e compartilham uma diferença
meramente vetorial.

terça-feira, abril 25, 2006

vida de gato.

"Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora ou senhorio
Felino, não reconhecerás. "

quarta-feira, abril 19, 2006

(...) que sempre me dava a mão para atravessar a rua até a outra margem, sempre me teve por frágil como um enfeite que se quebra no mínimo toque, sempre tomou toda palidez como a ausência de veemência e nervura --- como as virgens ideais e
pálidas-lânguidas-cálidas desse seu romantismo barato. e eu mesma tinha vontade de colocar sua boca aberta no meio-fio e com uma só pisada na cabeça quebrar todos os dentes da sua boca. para depois oferecer-lhe todas as delícias cremosas desse mundo, já que mastigar a categoria dos sólidos se tornaria naturalmente impossível. vê, não desprezo o fato de que poderei lhe servir, mas também não desprezo a condição do meu querer ou o possível cuspe na sopa que levo quente até você. e continuando então a desfigurar-lhe o rosto com as unhas todas, cravando cortes com os dedos, para depois com os mesmos dedos, afogados nos cabelos, dizer que não necessito das suas costelas nem de nascer delas. daí você pedirá perdão por freud e renunciará a todas as vaginas desse mundo se insistir que esta é um pênis castrado, privação.
e então negará adão.
7 vezes ao pé da macieira,
com as calças arriadas e em genuflexão.
e só então, meu homem, lhe darei meu coração:
com todos os nervos possíveis e
as veias tomadas de amor vermelho.
[paixão]
todo ódio eu guardarei em caixas transparentes,
para que seja visto e lembrado
até o fim.
[à redenção]

quinta-feira, abril 13, 2006

terrorismo existencial

"vou atirar uma bomba ao destino."

(Alvaro de Campos)

quarta-feira, abril 12, 2006

Blog re-aberto: fria e forte torna-se a criança castigada na neve.

"Nada mais humilhante para o homem, do que ser escravo de uma verdade, ou verdades que ele mesmo não consegue desvencilhar-se, por parecer à ele assim tão indubitável. E que o encerram, o delimitam, o forçam e o invadem como natureza estranha. E que o invadem mais fortemente, quanto mais ele se deixa acreditar. Aí é que o grande Anjo Negro do ceticismo, da dúvida e da racionalidade convertem-se no que salva e vivifica. Aí é que a revolta, o ódio e o desdém, convertem-se em couraça e escudo da alma, contra o que lhe machuca. É preciso também tornar-se verdadeiro bicho, astuto, serpente, solitário e maldoso, contra o que degenera e dociliza a alma. Eis aí o que Nietzshe arquetipicamente simboliza pra mim, no Ocidente cristão: o lado guerreiro, frio e labiríntico, que a simplicidade e docilidade cristãs, negaram. Que os fracos negaram."

do meu irmão.

sábado, abril 08, 2006


temporariamente fechado por motivos de força menor.

sexta-feira, abril 07, 2006

my conceptual hell.

não há porque falar de sangue, nem de desejo, nem de grito, nem de dor, nem de amor, nem de dúvida, nem de carne, nem de sonhos, nem de mistério, nem de ontem, nem de hoje, nem de amanhã. mamãe, porque você não pega a sua matemática e? pega a geometria não-euclidiana e sai do plano, desse plano seco de vida e enfia a cabeça nessas outras dimensões, que o espaço se deforma proporcionalmente ao tempo que perdemos com nossos gritos mudos nas nossas orelhas surdas. é que os conceitos matemáticos são mesmo uma delícia, a delícia e o conforto da necessidade da verdade de que 2+2 é sempre igual a 4. e a validade universal de um triângulo que para sempre terá três lados. e eu sou uma reta assíntota que assovia e acompanha um violino de cordas paralelas que não se cruzam. um feixe de paralelas que não se cruzam mas são interceptadas por um arco que pode ser perpendicular e formar um ângulo de 90 graus. ou não. e o infinito que existe entre o 1 e o 2 é o mesmo infinito que separa a minha pergunta da sua resposta. são os decimais que nos separam, esses elementozinhos entre eu e você. entre eu e o outro. mas a gente tenta e salta e se segura mesmo no ar, o navio que se ancora nesse espaço cheio de vazio. e essa minha assintoticidade que não demanda nenhuma solução positiva, simplesmente meu nariz não chega onde quer chegar, como se segurassem meus pés com força, talvez alguma outra reta que passa por mim e. voz: não querida, por definição é tender à e não chegar lá! fado, fado, fado. ( a sua necessidade)

domingo, abril 02, 2006

oráculo: aberto ao acaso.

" Eu poderia não entender e tu poderias não entender que prescindir da esperança - na verdade significa ação, e hoje. Não, não é destruidor, espera, deixa eu nos entender. Trata-se de assunto proibido não porque é ruim mas porque nós nos arriscamos.
Sei que se eu abandonar o que foi uma vida toda organizada pela esperança, sei que abandonar tudo isso - em prol dessa coisa mais ampla que é estar vivo - abandonar tudo isso dói como separar-se de um filho ainda não nascido. A esperança é um filho ainda não nascido, só prometido, e isso machuca.
Mas sei que ao mesmo tempo quero e não quero mais me conter. É como na agonia da morte: alguma coisa na morte quer se libertar e tem ao mesmo tempo medo de largar a segurança do corpo. Sei que é perigoso falar na falta de esperança, mas ouve - está havendo em mim uma alquimia profunda, e foi no fogo do inferno que ela se forjou. E isso me dá o direito maior: o de errar.
(...)
Pois prescindir da esperança significa que eu tenho que passar a viver, e não apenas a me prometer a vida. E esse é o maior susto que eu posso ter. Antes eu esperava. "

A Paixão segundo G.H.

(G.H. = gênero humano!?)
[Espanto!!! ------ post 12/01/2006]