(Sístole & Diástole) ou (Atrás dos olhos das meninas sérias)

Mais importante que a palavra é a textura - até mesmo porque a palavra (quase) nunca presta.

segunda-feira, maio 29, 2006


" Ninguém me ensinará os caminhos. Ninguém nunca me ensinou caminho nenhum, nem a você, suspeito. Avanço às cegas. Não há caminhos a serem ensinados, nem aprendidos. Na verdade, não há caminhos. E lembrei duns versos dum poeta peruano (será Vallejo? não estou certo): “Caminante, no hay camino. Pero el camino se hace ai anda”. "
caio f. abreu

sexta-feira, maio 26, 2006

Ah Debbie! Irene és morta!

Prefiro as gargantas profundas,
uma língua que roça outra língua
no emaranhado das palavras úmidas.
sons,
ruídos,
os estalados e os timbres dos segredos.
As salivas faladas – Ah! Aqueles bem dizeres...
O gozo no verbo
que escorre suado no canto da boca
em fricção com o outro e com a sintaxe do corpo.
Uma gargalhada demoníaca,
um sorriso gozado
que se mete e intromete
no colo intocado de cada útero minuto de prazer.
A romper o hímem do mundo
invadir os orifícios escuros-recônditos-indizíveis
até o fundo do osso
das dobras
e curvas das letras
o orgasmo soletrando minha imaginação de fogo,
assim como a grafia
da minha porno-grafia
de criança molestada.


maíra & mariana,
paraláxicas até o infinito possível.

quarta-feira, maio 24, 2006

pouco se entende embaixo d'água --- e tudo isso foi dito num mergulho. não entendam, por gentileza.

quisera não ter ouvido nada, e simplesmente continuado a nadar, ir e voltar, de uma margem à outra da piscina; se não tivesse ouvido, também não gritaria até arrebentar a garganta, eu que não sabia que daí de fora não se houvem os afogados, submergidos no fundo da água, da sala, da alma [tanto faz]. quisera ter visto mas não enxergado, e assim continuado a nadar, com os olhos vermelhosabertos desfocando traços, embaçando as formas sem delimitar o entorno-contorno que definem corpos, dispõem modos. melhor teria sido se não fosse o corte, quem-me-dera ter continuado a nadar sem o incômodo da fenda aberta, ardida, nas mãos que em forma de concha ensejam um nado não-sincronizado. [o nado não-sincronizado, sempre]. quisera não ter olhado as horas, e mantido a vida molhada, já que embaixo dágua o tempo não passa, não há o tempo que seca tornando árido [em descompasso com as intenções] e feio. quisera não ter feito do pulmão cinzas, despedaçado e sem fôlego, pra poder fingir de morto boiando abraçando os joelhos feito feto, surdo-mudo-anômico. quisera não ter saído ao vento, mas ter-me feito soluto no solvente universal, sem dissolução total --- transmutada em água-viva [que queima, machuca e se inocenta (porque simplesmente dança)].

domingo, maio 21, 2006

não me procures ali

Não me procures ali
Onde os vivos visitam
Os chamados mortos.
Procura-me
Dentro das grandes águas
Nas praças
Num fogo coração
Entre cavalos, cães,
Nos arrozais, no arroio
Ou junto aos pássaros
Ou espelhada
Num outro alguém,
Subindo um duro caminho
Pedra, semente, sal
Passos da vida.
Procura-me ali.
Viva.

Hilda Hilst

terça-feira, maio 09, 2006

Ma réplique!

Toma a minha réplica - nesse mundo de desdizeres, pudores, negligências e silêncios. é que eu não silencio mais. e então de bom grado respondo as cartas, os recados, as mensagens engarrafadas jogadas ao mar, e danço imaginariamente o crime ou a "tragicidade" dos tangos que me são ofertados. e sorrio também, um sorriso tímido que transparece as minhas meninices de "pra sempre" quando as palavras quedam.

[e a sintonia, antes percebida pela vontade comum da arte da marcenaria, escondida em mim o tempo todo - feito riso/graça]. como se eu folheasse um livro desconhecido aleatoriamente e mesmo assim o sentido não se perdesse nas páginas saltadas e na rapidez de todo aquele fluxo de pensamento. já que o sentido é a gente quem cria e injeta nas coisas, que esse seja intravenoso. frio era do tempo e da cerveja, calor era o da brasa e só do verbo. e foi quando o sentido deixou de significar 'alguma espécie de nexo/senso' e saltou pra ponta da língua - sensibilia. o toque, o tato. o sentido elementar do paladar/olfato. sem o desespero que se inflama e precipita, feito madeira que se molda com cuidado, a potência aos poucos vai se transformando em ato.

"que seja doce."