(Sístole & Diástole) ou (Atrás dos olhos das meninas sérias)

Mais importante que a palavra é a textura - até mesmo porque a palavra (quase) nunca presta.

sexta-feira, maio 20, 2005

apaga a luz acende o devaneio.

Página aberta ao acaso, onde caíram os olhos:

" Mas quem nos diz, afinal, que o iniciado, quando íncola dos penetrais dos mistérios, não é senão avara presa da nossa nova face da ilusão? Que é a certeza que tem, se mais firme que ele a tem um louco no que lhe é loucura? Dizia Spencer que o que sabemos é uma esfera que, quanto mais se alarga, em tantos mais pontos tem contato com o que não sabemos. Nem me esquecem, neste capítulo do que as iniciações podem ministrar, as palavras terríveis de um Mestre da Magia. 'Já vi Ísis' diz, 'já toquei em Ísis: não sei contudo se ela existe'."

F.Pessoa - Livro do Desassossego


LÁ FORA as luzes se apagam.
Boa noite.

quarta-feira, maio 18, 2005

L' idiot de da famille.

porque o querer muito se confunde e se transforma numa certeza absoluta e obstinada de que sim, de que sim!? porque na verdade não, na verdade não. daí o gosto -hoje- de guarda-chuva na boca e a própria chuva derramando impiedosa e fazendo borrões em todos os meus documentos e no passaporte(em potência) onde eu estaria com um sorriso de monalisa. decepção de maldizer todos os tais contos. por toda a vida, eu odeio contos. porque da próxima vez colocarei meu estômago numa caixa de sedex. e surpresa! e pronto. é o melhor que consigo fazer. talvez forneça também uma amostra grátis de fígado debilitado. será que perceberão que também sei ser realista e que todo o social, ainda que da cerveja e do cigarro estão lá, mesmo que não saiba dizer com todas as letras? porque eu juro que sei dizer, mas é aos berros e com esse corpo. é pela fraqueza física e falta de cor, os olhos caídos, quem não me vê me desconhece ainda mais. que seja, são os acontecimentos banais que a gente tenta transformar em extraordinários, as mediocridades travestidas de beleza, as trágédias que a gente acha graça pra não cair. ainda que as palavras se recusem a grudar no papel e fiquem agarradas nas golas das camisas como quem tem medo de morrer. porra, e é isso sempre.

(sartre, que você queime no inferno, ainda que l'enfer c'est les autres.)