(Sístole & Diástole) ou (Atrás dos olhos das meninas sérias)

Mais importante que a palavra é a textura - até mesmo porque a palavra (quase) nunca presta.

sexta-feira, dezembro 24, 2004

santa é a sua condição de isenta; isenta de toda sandice dita desse lado de cá. nossa condição é a de não proferir tolices, mas de enfiar os dois dedinhos na garganta e cuspir as chaves, que engolimos com o auxílio de meio copo d´água tentando omitir de todo mundo aquele lugar SÓ NOSSO, onde o sol bate de manhã numa parcimônia admirável durante meia-hora, onde as flores crescem mesmo sem água e os colchões cheiram impudicamente à cânfora de dia e à canela depois das 18h. agora meu amor, que cuspimos além das chaves, também o nosso anel, porque não atiramos de vez nossos corpos aos leões, como no palco de um espetáculo chamado resignação?

sabe-se que lá fora existem bons-morcegos.
e paredes nas quais a gente arranha as unhas
lugares escondidos no chão que dá pra abrir com os dentes,
mas sem (a mínima) satisfação garantida.
você pode estalar os dedos sem que ninguém reclame
ou deixar as panelas sujas sem que seja um crime,
carregar gatos no regaço e sustentar o luxo de
acreditar em rabo que é serpente.
sangrar mais cedo até que o outro vença,
mesmo que atrasado,
num equívoco.
sangrar como um hemofílico,
em qualquer orifício ou dobra
(gosto das dobras)
um hemofílico que divide em três,
um, dois, três.
dependura no varal separando por textura.
um hemofílico seco e branco,
como um vinho em final de festa, de boca-em-boca
em taça suja de batom
vermelho.
ou oferecer flores a uma virgem recém-deflorada
que nem sangrou por pura distração (ou por ser flor artificial).
usar um salto premeditando a queda,
desejar um tombo e um roxo extenso no corpo
tensionado.
sob os membros cansados o auxílio daquilo que deixa de ser o bastante
e excede, e excede e transborda, como um hemofílico sem nenhuma dor.

quarta-feira, dezembro 22, 2004

classificados

troco minha calcinha por um beijo em cada olho ou um cafuné ou um telefonema ou uma xícara de chá-de-sumiço.

matricídio

meu descontentamento é sem dúvida muito maior que qualquer arrependimento. peguei uma parede, um copo, uma vassoura e uma pá-de-lixo, ao invés de brincar de quebra-cabeça.

mais: patética, nefasta, mal-amada, deprimente...

é um tédio assim, com t minúsculo, realmente sem nenhum T.
eu desisto, de-sis-to, entendeu? porque todas as vezes que eu fecho os olhos, é como se eu ficasse durante 1 segundo sem nenhum dos meus sentidos, assim sem sentido mesmo. tratarei daqui em diante de ser ficcional, sim, essa será minha única promessa de fim de ano: ser ficcional. sabe-se lá as consequencias dessa (in)sensatez, é que não posso continuar a ser...isso. tudo bem que não será da mesma forma que aquela criança que ficou sentada no sofá com um trevo de quatro folhas esperando que uma bicicleta aparecesse assim: num estalo. arme e efetue:
1) transformar "doença em dança".
2) transformar "perda em prenda".
ha-ha-ha, gargalha dinah, como se a janela do décimo-oitavo andar a convidasse à uma boa trepada depois do chá das 18h, com direito a um gozo sem precedentes e em queda-livre.

domingo, dezembro 19, 2004

não há nada mais bonito que dois amantes se alimentando juntos, um olha pro outro triturando a comida entre os dentes, numa violência escondida pelos movimentos circulares da boca fechada, e engolindo massa amorfa em cores desagradáveis que não estão em caixas de lápis-de-cor. ela se levanta em busca de guardanapo, porque além de tudo os lábios ficam sujos de farelo e gordura, ele olha pra bunda dela, o que provoca nele uma salivação excessiva, auxiliando num melhor processo de deglutição.

terça-feira, dezembro 07, 2004

ad infinitum

e um dia ele chegou, pegou, virou e falou assim:


pra lá, pra cá, pra lá...

e as mazelas que no fundo você dá bom-dia.