(Sístole & Diástole) ou (Atrás dos olhos das meninas sérias)

Mais importante que a palavra é a textura - até mesmo porque a palavra (quase) nunca presta.

domingo, agosto 20, 2006

ela me confessou no espelho.

---talvez voltar a falar flores inofensivas e esquecer o deserto guardado lá dentro da boca sem céu estrelado, de onde escapam grãos que grudam nos olhos e cortam a visão dos objetos do mundo. ela é tão pequena nessa vida, de hábitos tão gatunos e tão triste também. sem fé que só. tão só. tão tão de tão pouco e minúscula. irresponsável de beber cerveja no graal, tão meia-boca. cheia de meias-verdades. tão pela metade. e a metade dividida em metades pequeniníssimas. um dia ela escutou os conselhos de augusto e desde então acostumou-se à lama que a espera. o homem que, nesta terra miserável, mora entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera. e não é que todos esses anos vem costurado com linha negra uma segunda pele, pele de defesas e asperezas de bicho-fera e arredio que mostra os dentes e esconde que esconde o rabo entre as pernas. em cada onibus que se entra, em cada roleta que se gira em cada banco que se senta em cada janela que a cabeça cansada se encosta em cada minuto de inação é se entregar ao quarto escuro que é só seu. acostumada com o lugar-comum que é a náusea disfarçada de dança. a doença que dança, só de pensar na cena ela sente vontade de chover e rir de tão nervosa, "oh meu deus mas que dialética monstruosa!" uma doença que dança uma valsa [nos braços de qual cura?]. "mas que sistema miraculoso!" sente como se estivesse se afogando no Mar-Morto desde os 50 anos a.C.