sagrada família
às pessoas da casa, eu digo que os nervos não são de aço, mas de uma linha mais fina que um fio de cabelo. às pessoas da casa que cultivam rancores, niilismos, desamores. às pessoas da casa doentes de ódio, doentes de si mesmas, doentes de tristeza. às pessoas da casa com as suas pilulazinhas soteriológicas, as suas gotinhas que adiam a auto-implosão iminente. às pessoas da casa que fazem do cachorro o único poupado, o incondicionalmente amparado. às pessoas da casa que batem a porta na cara, pisam batendo os calcanhares no chão como quem mostra os dentes ao pior inimigo. às pessoas da casa que pensam ter razão ao enfiarem na sua boca o sofrimento que sentem, e berram e gritam "engula, engula!" como o sêmem nojento de um homem egocêntrico (e por isso mesmo solitário) - porque você tem que ser solidário, ter compaixão. às pessoas da casa que cobram sem olhar no seu rosto, cobram porque. porque sim. às pessoas da casa que só olham pros rostos da novela, gritam as vespas nos seus olhos, sem saber se estão molhados ou não. as pessoas da casa e as suas chantagens, chantagens emocionais, espirituais, materiais --- passionais. às pessoas da casa e as suas fugas, suas taquicardias, suas falta-de-ar, porque somatizam tudo, guardam no corpo a pobreza de ontem. às pessoas da casa que murcham as flores com a sua secura de pedra. às pessoas da casa que esfregam na sua cara a "lei do retorno" como se fosse uma mulher feia e velha à te esperar na esquina mais próxima. às pessoas da casa e as vozes graves e agudas, cheias de dores gravemente crônicas e repetidamente agudas. às pessoas da casa, uma casa suficientemente grande pra três pessoas, pequena demais quando as suas próprias sombras apertam e comprimem os rostos de cada uma contra a parede. às pessoas da casa, bebam mais água e menos café sem açucar.


0 Comments:
Postar um comentário
<< Home