guadalupe colou com saliva o sétimo selo numa sétima carta e não obteve respostas.
guadalupe está sentada em meu colo cativo. guadalupe está soprando as cinzas na janela. guadalupe quer a sorte e a resposta num só ato. guadalupe quer respostas. guadalupe está puxando meus cabelos exigindo-me respostas. está a arrancar meus cílios um-por-um, mordendo-me os pulsos, tecendo uma rede de maltratos. guadalupe diz que sim, diz que não, não diz nada. me olha com seus olhos moles, seus olhos de peixe e me fura com seus espinhos. guadalupe me obriga a engolir seus espinhos e me rasga o esôfago. guadalupe faz carinhos e diz que nunca mais me morde. guadalupe é mentirosa. guadalupe se esconde por entre meus cabelos e canta fados portugueses desafinadamente. guadalupe é meu fardo, o meu engano. guadalupe é simultânea, antes fosse antinomia. guadalupe em nada crê, é piromaníaca, cospe fogo em qualquer contrato de confiança com o mundo. guadalupe cospe fogo nos meus pés porque não quer que eu toque o chão. guadalupe é randômica, desnecessária. guadalupe desafia a necessidade. guadalupe é relativa, reativa. radioativa. guadalupe é uma mendiga, pisa com os pés sujos sobre os seus próprios passos. guadalupe anda em círculos e não enxerga o centro. guadalupe é vesga, cada olho seu toca um ponto inverso no universo. guadalupe tentou andar de salto e virou o pé. guadalupe é manca. vejam! guadalupe é manca e vesga. guadalupe é pobre também, perdeu tudo numa partida de xadrêz com a vida. guadalupe vendeu as roupas, as palavras, a bola, os brinquedos. guadalupe arrasta aos prantos uma boneca pelos cabelos. guadalupe não desgruda da boneca e dorme com ela embaixo da cama do mundo. guadalupe tem uma boneca que não fecha os olhos. guadalupe só tem a mim.


2 Comments:
E eu soh tenho helena, assassinada há tempos, com um tiro no meio dos olhos; que nunca se fechavam, e nuncam cansavam de tanta força.
beijos para ti, guadalupe vagalume.
Eu nada nem ninguem nem alvoroços tenho, que minha epifania me avisou que aos onze anos eu estaria dispensado da tarefa de ser de alguém. Guadalupe não me tem nem eu a ela nem ela a você nem nós a nós nem eu a todos nem vice-versa muito menos Deus e Deus a mim e Deus a nós vós eles elas e aos animais. Só não consegui descobrir porque choro agora.
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