(Sístole & Diástole) ou (Atrás dos olhos das meninas sérias)

Mais importante que a palavra é a textura - até mesmo porque a palavra (quase) nunca presta.

sábado, junho 10, 2006

Nox et solitudo plenae sunt diabolo.

ela bebe do suco de uva que se pretende vinho e mastiga da hóstia que se pretende cristo. e apontando o dedo indicador (molhado de) na cara pasma de deus, aquele órfão de pais não-nascidos: e da carne se fez o verbo. E DA CARNE SE FEZ O VERBO! - grita arrancando partes de nuvens brancas e despedaçando por entre os dedos (molhados de) aqueles flocos brancos de idealidades. é que não há verbo antes da carne, nem mesmo nuvens antes de se dar com a cara no chão de espinhos, ou se dar com a cara na frente de um espelho inteiro e se ver quebrado, encubismado(sic.) como uma figura de picasso. as nuvem e os céus são a posteriori, e equilibram-se no nada que também comporta fogo e inferno, é a força aguda da crença que supera a força cética da gravidade, e assim flutuam no ar. amarrados um na borda do outro, fui outro dia visitar os céus, d'onde pude estender os braços e com uma tocha roubar um pouco de fogo do inferno, incendiando indelicada as asas de seda guardadas nos armários dos anjos que agora tropeçam nas madrugadas dos bairros sujos e negros "em busca de uma dose violenta de qualquer coisa". anjos caídos na perfídia, agora porteiros das casas-de-luz-vermelha, absortos comedores de papoulas.
ela pura pseudo-diáfana impregnada de mel
transformando carne em verbo,
lê o corpo e estupra o logos,
fode com as palavras
e minuciosamente explora
a hermenêutica do corpo
em cada anjo (de)cadente feito estrela.
(ela inocente, eu juro, inocente!)
enquanto isso, em cada livro que se abre, saltam as feras e os lobos e o que ela quer é entrar pela orelha e apartir daí numa viagem insólita se abrigar no TODO das entranhas ainda não comido pelas traças, costurar-se com um fio narrativo, ter tempo para um romance. do maleiro empoeirado do pai, hoje um lautreamónt gritou e corri pra socorrer, compadecida cheia de segundas intenções. a velha caridade interessada. ah! que você muda de assunto todo o tempo e insiste em irracionalismos, pequenas parcelas do irreal que você toma por real, esses cacos da imaginação que não compõem o mínimo conteúdo inteligível e o átomo ambulante que é a experiência de estar entregue somente a si mesma.
- mas é que eu só acredito no que não vejo! de céu e inferno minha visão está cheia, se vc quer voltar no assunto interior. quer dizer, anterior!
-você que é um átomo pensante que tende ao mais puro nada - do pó viemos e ao pó retornaremos com nossos grandes narizes famintos e decrépitos ansiando ciências cheirosas ou alcalóides puríssimos!
você: nadificando-se no costume de não impor seu mundo que significa pés descalços, cacos de vidro afiados e pequenas caixas de cartas velhas. se ainda se chamasse sofia! como esperar a sorte e exigir bonanças de um nome que revolve paixões e pecados como a ira?
- enquanto isso o Nada nadifica e produz ventos frios que balançam as cortinas de papel-
- e o absurdo abre a sua boca enorme, nos engolindo banguela com o rosto de nossos recém-nascidos (com hálito de vida&leite) e avós (com hálito de morte&formol) -

1,2,3 de Oliveira 4.

hoje, amanhã e a vida toda: enquanto uns querem conquistar o mundo, você se impõe o dever da inutilidade pública e da tragédia privada, se vangloriando por simplesmente conseguir vencer o sono na batalha dessa noite de círculo vicioso sem os lindos objetos dos seus vícios.
(nessa noite de blues & narcose recheada de fantasmas.)