neurose pride.
as cenas mais importantes da sua vida eram apagadas da memória à medida em que sorria-lhes mas chorava-se --- mentia porque rangia os dentes todo o tempo, sentia o gosto da vergonha na sua boca fechada, lá dentro como em um esconderijo. e quando abria, cospia da(r)dos ferinos com maestria, onde o acaso ditava as regras: ou o interlocutor levaria na testa, ou pegaria no ar e lançaria de volta, ou o dado cairia no número 3 e então sairíam satisfeitos e reconciliados em um raríssimo silêncio de cumplicidade. seu castigo então - pela comunicação sôfrega e atravessada, herdada do pai que ironicamente era um comunicólogo - era a perda da memória ["É preciso que eu não esqueça, pensei, que fui feliz, que estou sendo feliz mais do que se pode ser. Mas esqueci, sempre esqueci.”] diretamente proporcional à sua falta de confiança no mundo, e o tratamento de choque que merecem os medrosos, com suas ambições grandes e gordas, mas que não ousam atravessar a rua e disfarçam o fato com uma mis-en-scène interminável no meio-fio. o tratamento mais pesado que a doença, a cura mais maldosa que o sintoma, a anestesia mais longa que a cicatriz feita com pontos à mão, quase de cruz. tratamento obrigatório-compulsório indicado para o problema de: pensar A-dizer B-entenderem C.
tratamento desumano para desintoxicação de metáforas, interditos e entrelinhas.
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