(Sístole & Diástole) ou (Atrás dos olhos das meninas sérias)

Mais importante que a palavra é a textura - até mesmo porque a palavra (quase) nunca presta.

segunda-feira, novembro 07, 2005

la fábula del lago de los cisnes

quando se está silente, mas ao mesmo tempo leve e eminente, és como um cisne selvagem, que dormita pelas águas calmas, cheio de si. digno de uma bela pintura em papel de arroz, paisagem que ocupará no mínimo, as paredes de uma casa chinesa qualquer. uma casa onde os moradores são como animais garbosos e inaudíveis uns para os outros; seguem o exemplo do cisne selvagem que faz de cada movimento uma mistura de intencionalidade e um deixar-se levar pelo curso das águas. orientam-se retamente, esses orientais, que conservam a plumagem branca de seus cisnes em seus gestos, em suas belas pinturas feitas em papel de arroz.
de plumagem preta é o meu cisne selvagem, que dormita pelas águas turvas, cheio de si. também silente, mas de um peso que o faz perder a maestria no domínio das águas, que o levam a contragosto, à frente, o empurram à margem do curso. meu cisne selvagem que se precipita e frustra toda idéia oriental de organismo, na assimetria e desalinho com o curso das águas. todo o seu navegar inebriado, o faz perder a imponência frente ao lindo cisne de plumagens brancas, que parecendo ser eterno, posa como o em-si do que chamam mesura.
ao cisne negro, minha alegoria de navegar errante, presto homenagens, pois ainda que nem exemplar, nem apoteótico - diferentemente do cisne branco e alinhado - ele imerge nas águas turvas, desmesuradamente negro, apoderando-se da imensidão que o empurra, percebendo ao mesmo tempo ser essa água brava e poderosa, o violento e verdadeiro SIM que o sustenta.