(Sístole & Diástole) ou (Atrás dos olhos das meninas sérias)

Mais importante que a palavra é a textura - até mesmo porque a palavra (quase) nunca presta.

terça-feira, julho 25, 2006

22:22, 11:11, 4:44, tanto faz.

módulo armadura de jornal: propriedade térmica, para que não perca mais calor e o frio não invada impedindo a circulação sanguínea, congelando a pujança da velocidade do líquido vermelho. que mesmo na frieza alheia, a lei da termodinamica não me alcance e não me faça perder calor pra um corpo/ambiente/palavras de baixa temperatura.
módulo coração de marfim: é preciso matar uma manada de elefantes, um-a-um, com lanças de cristal e veneno de criança molestada. é preciso matar uma manada de elefantes pra se ter um coração maciço e coeso. é preciso pegar os elefantes pelos chifres e lutar na terra úmida pelo choro dos amantes, se sujar de lama na morada suja do desamor, das cabeças guilhotinadas pelo carrasco sem rosto. é preciso se furar, se arranhar na rua de ladrinhos com pedrinhas de brilhantes, daquelas bem pontiagudas e cortantes, feito o amor que passa se arrastando e se doendo, ferindo as mãos nos espinhos das rosas do bosque que se chama, que se chama solidão. é preciso se doer até a última célula viciada, um rital sacrossanto de sacrifício na madrugada fria e silenciosa. o coração de marfim exige calos na alma [se il y a] e rugas no espírito [idem]. o anel que tu me deste era vidro e se quebrou dentro dos dedos. sair correndo como quem busca um tesouro e se enganar dando de cara e corpo com uma porta transparente, agora estraçalhada, aos caquinhos ---E AS CICATRIZES. é um processo cumulativo, estamos interessados em acumulação de fracassos. em colecionar ruínas, cabeças cortadas e corações viciados em punções e nesses pormenores todos. pra se ter um coração de marfim foi preciso que morresse uma manada de elefantes, ir pra guerra, voltar pra casa e retornar à guerra por várias estações. sair ileso é estado proibido. entregar-se inteiro e recolher-se aos pedaços é condição primeira. é preciso matar uma manada de elefantes pra amar sem amadorismos. pra se preservar do embuste, e suportar a partida dos que passam como quem procura algo e não encontra. La recherche sem fim que não repousa nem sacia --- como me esquecer de que a estrela era cadente e esperar a permanência? como me enganar com âncoras que eram simplesmente de papel, fáceis de se desmanchar na água salgada do mar, que é a mesma água que se prende nos olhos e se rende, escorrendo pela perda? mas meu coração é de marfim e por ele eu matei uma manada de elefantes, manãna és otro día e meus calcanhares delicados, manchados de lodo precisam de cuidados e preparos para o próximo tropeço ou descompasso. eu que desconheço a sincronia.
"E acabava assim, de repente, ainda que não fosse absolutamente perfeito, nem redondo, chovera demais nos ultimos dias e havia tantos sapos pelos quintais semi-abandonados, os charcos, os poços, as minhocas retorcidas nas lamas, os plurais e a língua singular apertando tão violenta o dente contra o lábio que talvez escorresse um filete de sangue maduro sobre o branco da camisa, mas antes disso, sem efeitos, secamente, acabava assim, era uma pena, todos sentimos muitíssimo, mas que se há de fazer se acaba mesmo assim?"
módulo silêncio: como quem olha nos olhos de um búfalo.

1 Comments:

Blogger Barba said...

ahn... o que posso dizer? ah sim! "bonito isso :_)"

11:35 AM  

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