Como John Cage, que jogava I-Ching durante as apresentações.
O livro que estava sobre a mesa do computador era "Poemas e cartas a um jovem poeta", do Rilke, provavelmente ali deixado pelo meu irmão. Como sempre, concentrei-me e abri ao acaso uma página . Porque sim, porque esse é o oráculo a que recorro.
"(...)Uma só coisa é necessária; a solidão, a grande solidão íntima. Caminhar em si mesmo e, durante horas, não encontrar ninguém - é a isto que é preciso chegar. Estar solitário - como a criança está só quando os adultos se agitam, ocupados com coisas que lhe parecem enormes e importantes pelo simples fato de preocuparem os adultos e ela nada compreender do que estes fazem. No dia em que percebemos que essas preocupações são estéreis e mesquinhas, essas ocupações sem relação real com a existência, como não continuar a considerá-las uma coisa estranha, tal como a criança do âmago do seu cosmo, do fundo da sua grande solidão, que é, afinal, labor, aprendizagem, conhecimento? Para quê substituir o sensato "não-compreender" da criança por luta e desprezo, se não compreender é aceitar a solidão - se lutar e desprezar são duas modalidades de tomar parte nas próprias coisas que desejamos ignorar? Aplique, prezado senhor, os seus raciocínios ao cosmo que traz dentro de si e dê o nome que entender a esses pensamentos. Mas, quer se trate de lembranças da sua infância ou da necessidade apaixonada de se realizar, concentre-se sobre tudo o que brotar em si, dando-lhe primazia sobre tudo o que observar ao seu redor. Os seus "acontecimentos" interiores merecem todo o seu afeto. Deve, vamos dizer, trabalhar para eles, sem perder muito tempo nem demasiada força para esclarecer suas relações com os outros. (...)"
Me sinto até o próprio Kappus, e esta, a doce resposta entregue pelo carteiro, especialmente endereçada à mim.


4 Comments:
maira, engraçado, digo, curioso encontrar o rilke por aqui. ele [com esse trecho] que anda sempre reaparecendo na minha vida de uma forma quase ritual/cíclica.
oraculo, gostei da palavra. dizia dele, rilke, como de um eterno amigo. oráculo é uma boa tbm
"sua grande solidão, que é, afinal, labor, aprendizagem, conhecimento"
Parece que você atrai rilkeanos, ñ?
Desculpe, mas esse negócio de comentar os posts é estranho. É quase como ser um crítico de arte.
Mas acho que os críticos tem uma imensa vontade de criticar... e eu tive uma imensa vontade de comentar. Beijos.
Daniel,
as portas e as janelas estão abertas. critique, comente quando quiser!
e mariana,
quando eu disse de oráculo, é o próprio ritual de abrir páginas de livros ao acaso e ver o que sai. e não do próprio rilke, embora, é verdade, ele seja perfeito enquanto tal.
beijos!
estou a ler o seu blog! lalala...
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